Sonho



Sonho


Sonhar ato sublime no qual nossas mais profundas necessidades, nossos reais anseios, são atendidos. Sonho, belo mundo em que manifestamos a nós mesmos em tudo, mundo este que nos vemos em tudo. Saciamos até mesmo o que nossa consciência , presa da maneira que é, reprova. Paraíso do imoral, da falta de conseqüências, da beleza e da feiúra. Templo erguido a nós, ruínas da prisão em que vivemos, picadeiro onde somos o espetáculo.

Eu sonho, tu sonhas, nós sonhamos, porém quem realiza? Quem de nós é capaz de realizar? De provar, saborear, tatear a liberdade pura e fresca que em nossos mais íntimos sonhos vivemos. Quem é capaz de realizar os cultos de prazer e realização que lá celebramos.

Por noites sem fim sonhei, e nesses sonhos havia um ideal, uma nobre forma de viver, um caminho estreito a ser seguido. Em meus sonhos havia a maneira, de se ser melhor, de se realizar da maneira que eu desejava.

Por noites sem fim sonhei, e estes sonhos traziam consigo a necessidade de realização, eles traziam o ideal que eu deveria perseguir, um desejo de que cada batida de meu coração irradiasse para o meu ser , a força, a coragem e vigor para meu sonho trilhar . Porém, a mim nunca foi possível trazer estes anseios, para o concreto. Puxa-los de sua realidade onírica para minha vida, dura e seca.

É triste perceber isso. É doloroso ver que nunca fui capaz de transformar meu sonho em realização, nunca o concretizei, embora, desejasse do âmago de meu ser, nunca tive o heroísmo necessário. Fui levado pela rotina acolhedora e segura, e agora vejo quão covarde fui.

Aqui estou eu, metade de meu corpo coberto por lama, em uma trincheira. Sinto meus dentes batendo de frio, embora o sol seja onipresente no ambiente, será esse o presságio do final? Ou sinto este frio por ter chego a tão obscura conclusão a respeito de minha covardia.

Escuto uma sinfonia, de dor e desespero, tiros e gritos, uma celebração a um sonho. No céu fogos de artifício matam e destroem, manchando a terra com a tristeza, é um ideal sendo seguido, e como é bela a realização.

Em minha casa, a quilômetros daqui, abandonados estão; sim...meus filhos, a cama de minha esposa. É confortante neste instante relembrar minha esposa, seu sorriso, seu toque, seu olhar, o doce vinho de suas palavras. Quem cuidará deles agora? Como fui ingênuo ao achar que fazia tudo isso por eles.

Não desejo essas lágrimas que neste instante escorrem de meus olhos, porém esta correnteza não sou capaz de deter. Vivo um sonho, porém não o meu. Vivo os desejos de um conquistador, que em mim viu solo fértil para semear seu sonho, que em mim fez nascer a coragem que sempre desejei. Ele me fez acreditar que todo esse tempo essa era minha luta, a guerra pela paz de minha família, pela tranqüilidade e felicidade de meus netos ainda por nascerem.

Não há mais o que fazer o relógio de minha vida já marca a meia-noite de minha existência. É o fim, e para o caminho que escolhi não há volta, ou mesmo, perdão. Sei que é a ultima vez que empunho meu fuzil e o faço em lágrimas, pois sei, que nunca fui capaz de empunhá-lo em minhas guerras.

Realmente é verdade; ” é mais fácil morrer pelo ideal de alguém do que pelo seu próprio ideal”.

Ao grito do capitão, levanto-me e disparo em passos largos em direção ao inimigo.

- Por sua Alemanha!!! – e penso, por minha derrota...

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O calor emanado da lareira é fraco e doente, quase não há lenha e o inverno é longo na Alemanha. Uma mulher prepara um pouco de sopa para seus filhos. Nos olhos dessa mulher vê-se tristeza, melancolia. Algo falta naquela família, algo além de lenha, algo que nem mesmo toda a lenha do mundo poderia substituir, no coração daquela família falta um marido, um pai.

Duas crianças olham um velho álbum de fotos, para poderem lembrar de seu pai, pois a dor de não vê-lo a seis meses é cada vez mais forte. Embora sua mãe lhes diga que seu pai luta por eles, o jovem coração daquelas crianças ainda não é capaz de entender a guerra.

-Mãe! – chama um dos garotos, Adolf de oito anos.

- Sim, filho...

- Quem é esse velho com papai?

- Ele é seu avô, ele mora longe daqui, na Polônia, nessa foto eles estão na sua fazenda...

- Seu pai quando voltar irá comprar-nos um pedaço de terra longe dessa fria Alemanha, e plantar, assim como ele sempre sonhou... ele sempre quis ser como seu avô um fazendeiro. – Diz a triste senhora.

Brasil???

Frio, tosse, febre, dores, SIM!!! Assim eu me sentia enquanto assistia aquele jogo “besta” da copa, afinal o nosso Brasilzão, estava fora...

Besta? Não...que jogo lindo, viam-se guerreiros em campo, prontos para entregar sua vida naquele momento de emoção, brigavam pela bola, como se somente ela importasse,como se a TODA PODEROSA BOLA, fosse o centro do universo....e não era?

E o que eu, o enfermo, senti?

Inveja, muita inveja, porque nossos jogadores não fizeram isso?

E o que eles fizeram?

Que espécie de pessoa pode sair de campo sorrindo após perder um jogo, partidinha essa que um país, uma enorme nação parou para assistir, e só não chorou ao seu fim por vergonha, pois o que havia se visto em campo não refletia a nós Brasileiros.Povo guerreiro e batalhador que apesar de todos os problemas que batem a nossa porta TODOS os dias, não deixamos de sonhar com tempos melhores.

Não sou um adorador do futebol, na realidade só assisto a jogos de futebol na época da copa do mundo, pois acredito, ser de tamanha insensibilidade um brasileiro que não se comova com a euforia que toma conta de nosso sofrido povo.

Eu torci, gritei, ajudei na ”vaquinha” que o pessoal de minha rua fez, para comprar bandeirinhas e então podermos nos cercar do verde-amarelo que nessas épocas, tanto amor nos desperta. E me envergonhei...

Ó italianos, que até o fim brigaram e nos últimos dois minutos...dois gols fizeram...Pensem bem...faltando dois minutos para o fim da partida eles fizeram DOIS gols....Eles acreditaram, e seus corações, suas fortes almas os levaram a vitória, pois aquela altura seus corpos estavam esgotados.

Ó alemães, que embora não tivessem talento algum, foram passando barreira por barreira, lutando empurrados por um povo, que até pouco tempo tinha vergonha de gritar o nome de sua seleção, para eles a torcida teve muito valor...mandaram para casa até mesmo nossos “hermanos “.Ponto para eles!

Nós brasileiros terceiro mundo para uns, país emergente para outros, que somente nessa época conseguimos colocar nosso corpo caboclo à mesa de honra mundial, que somente em tempos como esse, somos considerados a “elite” para então desfrutamos do que os italianos, alemães, franceses, cansam de desfrutar todos os dias de sua vida.

Não é nos menosprezando que vamos chegar a algum lugar...mas que INVEJA viu!!!