Poesia ?

Salve traça!
Você que gosta de saborear letra e bit, página branquinha ou de jornal, solte sua gula e dê uma passada de língua nesta poesia(?).



?
Língua mão,
gente maneta.
O que corpo toca
não mente.
Sente e fala.

Língua mala
Pesada, chuvosa.
Lágrimas dolorosas
de labor passado.

Língua pombo
Voa gorda.
Feia e sem canto
Sob seus pés
Corre a luz.

Ó língua...
O visível,
o nomeável,
o palpável impalpável.
“EL” prisión 
 
 








Língua
Alheia
Baldia
Vadia!
Em seus pentelhos,
  a poesia.






Créditos, imagem pertecente a obra Hybris(Download) , uma pequena narrativa gráfica em oito páginas. PS: Desconheço o autor...mas a história é muito boa! Recomendo!

Representação ou Apresentação?

Salve traça!


Algo diferente; hoje posto uma pequena história em quadrinhos de Gabriel Bá e Fábio Moon, pertecente ao álbum "Crítica". A obra trata da questão do espaço da arte em nossa sociedade, a relação com o público, as exposições, as linguagens criativas, dentre outras coisas. Esta questão vem sendo debatida por um grupo de poetas do Vale do Paraíba desde o ano passado, e após alguns encontros, mesas-redondas, e uma série de outros eventos a única certeza que permanece é incerta. Este post é uma homenagem  e uma incitação ao debate para a Confraria do Coreto. 








Números 4

Salve traça!

Hoje publico Números 4, A Arma (Download aqui.), só que desta vez com uma proposta diferente!
Dentro do Zine, após o conto, há uma espaço em branco, local destinado a intromissão do leitor, ou seja, uma continuação da história. Publicarei neste post todas as continuações que forem enviadas para meu ze-mail. Resumindo, as traças vão poder meter o bedelho à vontade! Aqueles que receberem o Zine impresso também ganharão uma caneta...
Enfim, aproveitem a história escrita, na qual recebi ajuda de Anthony Newman nos momentos concepcionais.

Atualizado em: 24/01/2012 - Inserida a colaboração de Teresa Cristina Bendini - Leia abaixo.

A Arma 




    - A culpa é deste povinho brasileiro, só vive para assistir BBB e futebol.
    - Silas, já estou cansado de ouvir você falar, e falar, e falar. A vida não é uma merda, está uma merda, e isto tem se arrastado por tanto tempo. Estamos aqui, virando copo após copo, acreditando que somos, ou temos, algo de diferente deste povinho brasileiro. Mas sabe a verdade? Somos brasileiros, e pior que o povinho, estudamos e vimos um probleminha ou outro na maneira que as coisas se apresentam, mas e daí? Nós brindamos e filosofamos gastando saliva e dinheiro, fingindo e calando.
    - Olha aí quem fala, o que você tem feito em seu emprego de bancário?
    - E você? Realmente acredita que como professor está fazendo algo para melhorar a nossa realidade?



   

Crédito: Charge de Rafael Sica, presente no extraordinário, Ordinário.

     


                                                      A Arma
                                                                       por Teresa Cristina Bendini

     
      Depois de ter narrado a história ao editor do jornal Zero Hora, Orfeu assinou imediatamente o contrato que o faria cronista daquele jornal por cinco anos.  Isso representava, sem dúvida, uma vitória na vida daquele jovem escritor. Ele tinha apenas 25 anos, sua caneta e nada mais. A danada nunca havia lhe faltado com a letra. Era só apontar em um papel em branco e pronto. Ela disparava a escrever. E sempre algo que lhe valesse alguns trocados. Quando chegou em casa depois daquele dia exaustivo, tratou de guardá-la no cofre da sala. Antes disso, ela gritou:
    -Calma!
    -Eu quero beber um pouco de tinta, não vê que estou acabada? Então Orfeu beijou-a, exercendo sua gratidão. Levando-a até a escrivaninha alimentou-a de tinta fresca.
    -Acabada porquê? Disse ele sorrindo. Acabamos de ganhar um contrato de cinco anos com o jornal mais importante do RG.
    -Matei um homem, sou a arma do crime! Estou apavorada e se eles me prenderem?
    -Prenderem? Como assim?
    -Estou brincando. Jamais eles acreditariam nessa história. Ah meu Deus, porque que eu vivo escrevendo histórias?
Estou exausta!!!
     -Exausta ou exausto, Moacyr? Pare de reclamar, foi você que me deu essa missão. Seu escritor doido!   Porque quis renascer numa caneta?
     -Numa caneta não, na minha caneta!
     -Sim, eles esqueceram de enterrá-la com você. No dia do seu velório tentei achá-la em sua casa. Procurei na escrivaninha, na estante, nos livros e nada. Você tinha sumido! Não do caixão é claro, pois já estava na caneta. Escondeu-se no seu livro mais ridículo. “A mulher que escreveu a Bíblia." e dentro do meu barraco!!!!
Eu, um autodidata! Seu fã desde os quinze anos! Afinal... porque me escolheu?
Eu e eu.

     -Você sabe o que eu penso dos leitores? Esses caras vão mudar o mundo. Karl Marx, Freud, Spinoza, Einstein, Arendt, Lispector, Spielberg. Sem leitura, o que seria desses caras?
     -Epa!!!!! Auto lá! Pare de citar judeus. Que mania é essa de puxar a sardinha pro seu lado?
     -Não é isso! Estou falando de você, Orfeu.
     -Não me compare com Judeus. Sou preto e favelado.
     -Sim. Mas nem por isso deixou de ler um dia sequer os meus livros, mesmo sendo um favelado.
     -Moacyr, você está me cansando. Estou morando temporariamente em sua casa, mas pretendo sair daqui assim que fique conhecido e comece a ganhar dinheiro. Você se lembra do nosso ACORDO?
     -Sim, lógico. Você fica comigo até eu te fazer famoso, daí por diante a alma inserida na caneta é inteiramente sua!
    -Inserida em “outra caneta”, diga-se de passagem, porque essa eu mesmo tratarei de devolver pro bolso do seu presunto!
    -Não antes do meu Best-seller!
    -Do meu, ora essa!
    -Sim, você merece. É um ótimo leitor...e um candidato razoável a escritor.
    -Não acredito que isso esteja acontecendo! Uma caneta que além de falar... ofende!



Ateu


Salve traça!
Enfim os primeiros bits velhos deste ano de 2012. 
Dedico esta poesia a pessoa que lançou a questão inspiradora deste amontoado de letras; a confrade, Teresa Cristina Bendini. 



Ateu.

Orar deuses enlapidados?
Fumar sentimentos impressos?
Ó Poesia!
Não lhe cai bem o altar,
o sussurro débil,
o  respeito enfermo.
O grito, nunca virá?
Hosana nas alturas?

Calado acalento,
Da nobreza culta.
Ó Poesia!
Não lhe cai bem os láureos,
o cuspido pedigree,
a evolução teleológica.
A ânsia, agora veio?
Tola idiossincrasia?

Chega!
O amanhã vem longe
Hoje?
Cedo demais para morrer.
Poluído panteão,
aguarde!
Há nos bolsos sementes,
da adoração. 





Créditos: Painel presente em Transubstanciação(Download aqui) de  Lourenço Mutarelli.